sábado, 30 de novembro de 2013

Deixe-me




Deixe-me habitar em você
Deixe-me em seu coração entrar
Alimentar-lhe com meu beijo
Fortalecer-te com o meu amor

Deixe-me,só não mim deixe sofrer
Não mim deixe morrer sem seu amor
E por falta dele morrer
Mas, fazer-te feliz,deixe-me

Autor:Renivaldo de Jesus

sábado, 23 de novembro de 2013

Musa



Dizem que não, mas sei que sim,
Uma delas me acompanha.
Não a vejo, mas a sinto e sua presença me acanha.

Não a vejo, mas sinto seu perfume.
Que me embriaga e me seduz,
Que inspira minha alma e nas palavras me conduz.

Ela é a fonte, é o ser,
É a inspiração que vem do nada.
Uns entendem, outros tentam entender.
O sentido da velha estrada.

Ela é o mito que se torna estro,
É a estrela do canto poético.
Ela é a raiz no fundo do oceano,
É a palavra que não se torna engano.

Ela é a luz em um ponto forte
De uma mente brilhante e confusa.
Se da poesia vive o poeta,
Na inspiração vive a musa.
Henrique Neves

sábado, 16 de novembro de 2013

Se quiser falar de amor...



Se quiser falar de amor tudo bem,
Irei além, entrarei no tempo sem tempo
Farei do momento o plano perfeito.

Se quiser falar de amor que não seja em vão
Para que futuramente não peça perdão
Caindo em contradição com suas promessas.

Se quiser falar de amor estarei aqui
Calarei-me para lhe ouvir,
Mas não pense em fugir da verdade.

Se quiser falar de amor lhe darei o mundo,
Mas lembre-se em que apenas um segundo
O mundo pode acabar.

Se quiser falar de amor libertarei o sentimento,
Mas espero não encontrar o lamento
Por querer te amar.

Henrique Neves

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Poetizar

Poetizar é dar sentido
É sentir sem ser machucado
É viver a emoções das palavras
é chorar,amar,odiar

mas nunca morrer
viver o sentido da vida
uma vida com sentido
emocionando e sendo emocionado

Renivaldo de Jesus

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CRUZOU POR MIM, VEIO TER COMIGO, NUMA RUA DA BAIXA

CRUZOU POR MIM, VEIO TER COMIGO, NUMA RUA DA BAIXA
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto urna simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
Às normas reais ou sentimentais da vida —
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento de justiça, ou capitão de cavalaria
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-me com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma razão exterior para ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo mais é estúpido como um Dostoievski ou um Gorki.
Tudo mais é ter fome ou não ter que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele
Pobre que não era pobre, que tinha olhos
tristes por profissão.
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.
Já disse: Sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: Sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Autor:Fernando Pessoa