sexta-feira, 26 de abril de 2013

SEM PERFEIÇÃO



Flores que choram e que fedem
Perfumem o meu coração
Luz que clareia que escurece
Ilumine os meus caminhos

Contigo eu choro
Perfumo-me com os seus defeitos
Com você guio-me em sua escuridão
Ilumino-me com os seus erros

Aceito como tu é
E como tu es também eu sou
Fedorento em defeitos
Escuro em erros

Vagando na lama procurando a limpeza
Procurando exalar o perfume mesmo sem cheiro
Iluminando o escuro sem possuir luz
Em uma triste e mortífera viva imperfeição
Autor:Renivaldo de Jesus

terça-feira, 9 de abril de 2013

O Teu Riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda